Ramón Díaz
Ramón Ángel Díaz é um nome que ecoa com força nos gramados do futebol sul-americano e além. Nascido em 29 de agosto de 1959, na província de La Rioja, na Argentina, esse homem de 1,72 metro de altura e pé esquerdo afiado construiu uma carreira que mistura garra, títulos e controvérsias. Conhecido como “El Pelado” ou “Don Ramón”, ele passou de um atacante veloz nos anos 1970 e 1980 para um treinador astuto, capaz de resgatar times em crise e erguer troféus em continentes diferentes. Sua jornada não é só de vitórias: é de superação, de famílias unidas no vestiário e de frases que viram lendas, como o “No va a bajar!” gritado no Vasco da Gama para evitar um rebaixamento.
Díaz representa o futebol argentino clássico: paixão, tática ofensiva e uma pitada de drama. Como jogador, brilhou na Inter de Milão, no River Plate e até no Japão, marcando mais de 250 gols em mais de 500 partidas. Mas foi como técnico que ele se eternizou, com 17 títulos no currículo – o maior número para um treinador argentino, superando lendas como Helenio Herrera e Carlos Bianchi. De 1995 até hoje, em novembro de 2025, ele comandou times como River Plate, Al-Hilal, Corinthians e, agora, o Internacional, sempre com o filho Emiliano ao lado como auxiliar. Sua filosofia é simples: desenvolver jovens, motivar o grupo e jogar para frente. No Brasil, onde chegou em 2020, ele se tornou um “bombeiro” de luxo, apagando incêndios em clubes como Botafogo, Vasco e Corinthians. Mas nem tudo são flores: polêmicas, como uma declaração machista recente no Inter, mostram que Don Ramón não foge de uma boa briga verbal.
Esta história mergulha na vida de Ramón Díaz, desde as ruas poeirentas de La Rioja até os holofotes do Beira-Rio. Vamos explorar sua formação, os gols que o imortalizaram como jogador, as taças que ergueu como comandante e os desafios que enfrenta aos 66 anos. É uma narrativa de um homem que, mais do que vencer, inspira lealdade e emoção no esporte que ama.
Os Primeiros Passos: Infância e Formação em La Rioja
Ramón Díaz nasceu em uma família humilde na província de La Rioja, uma região árida e de tradições fortes no noroeste argentino. Filho de operários, ele cresceu chutando bola nas ruas de terra, onde o futebol era mais do que diversão: era escape e sonho. Aos 10 anos, já mostrava talento nato, com um drible curto e um chute preciso que deixavam os meninos mais velhos para trás. “Eu jogava descalço, com uma bola de trapos”, recorda ele em entrevistas antigas, destacando como a pobreza forjou sua resiliência.
Aos 14 anos, Ramón foi para Buenos Aires, sozinho, para tentar a vida no River Plate, o clube de seus ídolos como Enzo Francescoli. As categorias de base do River eram um caldeirão de talentos, e Díaz se destacou rapidamente. Treinadores como Juan Carlos Lorenzo viram nele um atacante versátil: rápido nas pontas, letal na área. Em 1978, aos 19 anos, ele estreou no time principal, marcando seu primeiro gol contra o Racing Club. Aquela fase inicial no River foi de aprendizado duro: lesões menores, concorrência feroz e a pressão de um gigante argentino. Mas Ramón se firmou, jogando 135 partidas e balançando as redes 64 vezes até 1981. Foi ali que ganhou o apelido “El Pelado”, por seu cabelo ralo e jeito simples, contrastando com a pompa do futebol grande.
Essa formação não foi só técnica: foi emocional. Díaz aprendeu a lidar com derrotas, como a final perdida para o Boca Juniors em 1979, e a celebrar vitórias coletivas. La Rioja sempre foi seu porto seguro; ele voltava para visitar a mãe, que faleceu cedo, e os irmãos, mantendo os pés no chão. Essa raiz humilde o diferenciaria anos depois, como treinador: ele sempre prioriza o vestiário, tratando jogadores como filhos. Aos 22 anos, quando saiu para a Europa, levava na bagagem não só habilidade, mas uma fome de provar que meninos do interior podiam conquistar o mundo.
Da Argentina à Europa: A Carreira Brilhante como Jogador
A carreira de Ramón Díaz como jogador foi um mosaico de aventuras globais, cheia de gols, troféus e adaptações culturais. Revelado no River Plate, ele era o protótipo do atacante argentino: veloz, habilidoso e com faro de gol. Sua primeira grande transferência veio em 1982, para o Napoli, na Itália, onde o futebol era tático e físico. Em 38 jogos, marcou 8 gols, ajudando o time a se firmar na Serie A. Napoli era uma cidade vibrante, e Díaz se encantou com a pizza e o calor humano, mas o estilo defensivo italiano o desafiava.
De lá, foi para o Avellino (1983-1986), um clube menor no sul da Itália. Foram 92 partidas e 24 gols, provando que ele rendia em qualquer contexto. “Eu corria como um louco, porque precisava”, dizia ele, rindo das viagens longas de ônibus. Em 1986, assinou com a Fiorentina, onde brilhou mais: 67 jogos, 22 gols, e atuações memoráveis contra a Juventus. Sua velocidade nos contra-ataques era letal, e ele se tornou ídolo da torcida viola.
O ápice europeu veio na Inter de Milão, de 1988 a 1989. Ramón jogou 43 vezes, marcou 15 gols e ergueu a Serie A de 1988-89, ao lado de lendas como Lothar Matthäus. Aquele título foi épico: a Inter dominou o Milan de Arrigo Sacchi na final. “Foi o momento em que me senti invencível”, confidenciou Díaz. Depois, no Monaco (1989-1991), conquistou a Copa da França em 1990-91, com 78 jogos e 30 gols. A França o acolheu com seu estilo elegante, e ele se adaptou ao futebol francês, misturando técnica argentina com disciplina europeia.
Em 1991, o chamado do coração: retorno ao River Plate. Artilheiro do Apertura com 30 gols em 67 jogos até 1993, ele liderou o time em uma era de reconstrução. Foi emocional, jogando com amigos de juventude. Por fim, aos 34 anos, aventurou-se no Japão, no Yokohama F. Marinos (1993-1995). Lá, explodiu: 90 jogos, 59 gols, tornando-se o maior artilheiro do clássico contra o Yokohama Flügels. O futebol japonês, disciplinado e veloz, casava com seu estilo. Encerrou a carreira em 1995, aos 36, com mais de 500 partidas e 250 gols. Pela seleção argentina, brilhou na Sub-20 de 1979 (título mundial, 8 gols) e na principal (22 jogos, 10 gols), incluindo a Copa de 1982. Sua trajetória como jogador foi de globetrotter: da poeira argentina aos estádios italianos, sempre com o sorriso de quem sabe que o gol é coletivo.
A Virada: De Jogador a Treinador e os Primeiros Desafios
Aos 36 anos, Ramón Díaz pendurou as chuteiras, mas o futebol não o largou. Em 1995, assumiu as categorias de base do River Plate, onde sua intuição tática floresceu. “Eu via os erros que cometi como jogador e queria corrigi-los no banco”, explicava. Sua estreia como técnico principal veio em julho de 1995, no mesmo River, e ali começou uma era dourada. Díaz trouxe uma filosofia clara: ataque fluido, valorização de jovens e motivação psicológica. Ele não era o técnico gritão; era o pai do vestiário, que conversava individualmente com cada atleta.
Os primeiros anos foram de aprendizado. No River, enfrentou pressões de uma torcida exigente, mas sua calma o salvou. Ele montava elencos com misturas de veteranos e promessas, como Hernán Crespo e Ariel Ortega. Essa transição marcou Díaz como um líder nato, pronto para o mundo.
A Era de Ouro no River Plate: Títulos e Hegemonia
A primeira passagem de Ramón Díaz pelo River Plate, de 1995 a 2000, é lendária. Em 252 jogos, ele somou 126 vitórias, uma taxa de 58,7%. O ponto alto foi a Libertadores de 1996: o River, com Francescoli como capitão, Ortega dançando no meio e Crespo na área, destruiu rivais. Na final contra o América de Cali, vitória por 2-0 na ida e 0-0 na volta. “Era um time de poetas”, descreve Díaz. Em 1997, veio o tricampeonato argentino e o Apertura, consolidando a “Máquina de 1996-99”. Ele saiu em 2000, deixando um legado de 5 títulos locais e continentais.
A segunda passagem, em 2001-2002, foi mais curta: 52 jogos, 64,7% de aproveitamento. Sem taças grandes, mas manteve o River vivo na Libertadores. A terceira, de 2012 a 2014, teve 66 jogos e 54% de vitórias, com foco em reconstrução após crises financeiras.
Aventuras pelo Mundo: Da Europa à Ásia
Díaz não parou na Argentina. Em 2004, assumiu o Oxford United, na Inglaterra, por 25 jogos (49,3% de vitórias). Foi uma imersão no futebol inglês, com campos encharcados e torcidas barulhentas. No San Lorenzo, em duas passagens (2006-2008 e 2010-2011), ergueu títulos locais, com 61,3% de aproveitamento na primeira. No México, pelo América (2008-2009), introduziu seu ataque veloz em 24 jogos.
Na Arábia Saudita, explodiu: no Al-Hilal (2016-2018 e 2022-2023), 125 jogos e 72,3% de vitórias, com múltiplos campeonatos sauditas e asiáticos. “O dinheiro é bom, mas a paixão é igual”, dizia. Breves passagens pelo Al-Ittihad (2018) e Al-Nasr (2021-2022) mostraram sua adaptabilidade.
Na África, pelo Pyramids egípcio (2019), 71,8% de vitórias em 13 jogos. No Paraguai, com a seleção (2014-2016) e Libertad (2019-2020), levou times a Copas América e títulos nacionais.
O Desafio Brasileiro: Bombeiro em Tempos de Crise
O Brasil entrou na vida de Díaz em 2020, com o Botafogo, mas uma cirurgia o impediu de estrear. Em 2023, no Vasco da Gama, veio o furacão: contratado para evitar rebaixamento, em 41 jogos (50,4% de vitórias), ele virou o jogo. Vitórias sobre Fluminense e América-MG, e o grito “No va a bajar!” após empate com Bahia. Salvou o time na última rodada contra o Bragantino (2-1), renovando até 2025. Mas em abril de 2024, após goleada para o Criciúma (4-0), foi demitido, com o filho Emiliano. Cobrou multa na Fifa, virando persona non grata no Vasco.
No Corinthians, de julho de 2024 a abril de 2025, 60 jogos e 62,2% de vitórias. Saiu da zona de rebaixamento e venceu o Paulista de 2025 (1-0 na ida e 0-0 na volta contra o Palmeiras). Demitido por mau início no Brasileirão, mas deixou fãs.
Em julho de 2025, no Olimpia paraguaio, 7 jogos (42,9%), saindo após derrota para General Caballero. Em setembro, acertou com o Internacional até 2026.
Conquistas que Eternizam: Os 17 Títulos de Don Ramón
Com 17 taças, Díaz é o argentino mais vitorioso. Destaques: Libertadores-1996 (River), Serie A-1988/89 (Inter), Copa da França-1990/91 (Monaco), múltiplos argentinos, sauditas e o Paulista-2025. Sua taxa geral: 864 jogos, 426 vitórias (54%), +457 no saldo de gols. Ele transforma crises em glórias.
A Família Díaz: Vida Pessoal e Laços Íntimos
Casado, pai de Emiliano – seu auxiliar inseparável –, Ramón é homem de família. No Vasco e Corinthians, a “família Díaz” uniu vestiários. Humilde, ele evita luxos, preferindo churrascos simples. Sua fé e raízes riojanas o guiam.
Atualizações de 2025: Do Olimpia ao Inter e a Polêmica Recente
Em 2025, Díaz viveu idas e vindas. Após o Corinthians, assumiu o Olimpia em julho, vencendo na estreia (3-1 sobre Atlético Tembetary), mas saiu após 7 jogos. Em 24 de setembro, foi anunciado no Internacional, com contrato até 2026. Aos 66, prometeu “lutar até o fim”.
Em 8 de novembro de 2025, após empate 2-2 com o Bahia no Beira-Rio – anulação de gol polêmica –, Díaz criticou a arbitragem: “O futebol é para homens, não para meninas”. A frase, dita em coletiva, gerou repercussão: CazéTV chamou de machista, e ele prometeu conversar com o presidente Alessandro Barcellos. Emiliano, ao lado, ironizou culpas internas. Apesar disso, o dirigente José Olavo Bisol elogiou o progresso e confirmou Díaz no cargo. O Inter, lutando contra rebaixamento, vê nele o “bombeiro” argentino. Ramón reafirmou: “Óbvio que dá para garantir a permanência”. Aos 9 de novembro, o foco é o próximo jogo, com Díaz escalando o mesmo esquema tático.
O Legado de Don Ramón: Inspiração para Gerações
Ramón Díaz deixa um rastro de resiliência. Seus times jogam com alma, e ele, com coração. De La Rioja aos gramados brasileiros, ele prova que o futebol é de quem luta. Aos 66, no Inter, segue escrevendo história.