Jorge Sampaoli
Jorge Sampaoli é daqueles nomes que ecoam nos gramados como um hino de paixão e intensidade. Nascido em 13 de março de 1960, em Casilda, uma pequena cidade da província de Santa Fé, na Argentina, ele transformou sua vida de jogador frustrado em uma das trajetórias mais fascinantes do mundo do futebol. Lesionado aos 19 anos, Sampaoli trocou as chuteiras pelo apito e se tornou um técnico obcecado por táticas inovadoras e futebol ofensivo. Hoje, aos 65 anos, ele comanda o Atlético Mineiro, no coração do Brasil, onde busca reconquistar glórias em um campeonato que ele conhece como poucos. Sua história é um roteiro de altos e baixos, vitórias épicas e lições amargas, sempre regado a uma filosofia que prioriza o espetáculo e a garra coletiva.
Os Primeiros Passos: De Casilda aos Desafios Peruanos
Tudo começou nas ligas regionais argentinas. Sampaoli mergulhou no mundo da casinha como treinador de times amadores, como o Belgrano de Arequito, onde conquistou o título da Liga Casildense de Fútbol em 1996, na divisão de acesso. Dois anos depois, no Aprendices Casildenses, repetiu o feito em 1999 e 2000. Esses troféus modestos foram o combustível para uma carreira que o levaria para longe de casa. Aos 40 anos, ele cruzou as fronteiras para o Peru, um país que se tornaria sua segunda pátria futebolística.
Seu primeiro grande teste veio no Juan Aurich, em 2004, onde implementou um estilo de jogo agressivo que surpreendeu. Dali, passou pelo Sport Boys e pelo Coronel Bolognesi, time com o qual venceu a Copa Peruana em 2006. No Sporting Cristal, em 2007 e 2008, ele elevou o nível, terminando o campeonato nacional em segundo lugar. Mas foi no Chile, a partir de 2009, que Sampaoli encontrou o terreno fértil para florescer. Assumindo o O’Higgins, ele levou o clube a uma campanha histórica: terceiro lugar no Clausura de 2010, algo inédito para o time de Rancagua. Sua marca já estava registrada: pressão alta, transições rápidas e uma defesa que virava ataque em segundos.
Esses anos iniciais moldaram o homem que Sampaoli é hoje. Ele não era só um técnico; era um visionário que estudava o jogo como um cientista, inspirado por ídolos como César Luis Menotti e, principalmente, Marcelo Bielsa, seu mentor indireto. “O futebol é uma guerra de ideias”, costuma dizer, e suas equipes sempre refletem isso: compactas, incansáveis e letais no contra-ataque.
A Explosão na Universidad de Chile: Três Títulos e uma Copa Histórica
O ponto de virada veio em 2010, quando Sampaoli assumiu a Universidad de Chile. O que se seguiu foi uma era dourada. Em 2011, ele conquistou o Apertura e o Clausura, tornando-se o primeiro técnico a vencer os dois torneios no mesmo ano pelo clube. Mas o ápice foi a Copa Sul-Americana de 2011, a primeira conquista internacional da La U em sua história. Na final contra o LDU, de Quito, os chilenos venceram por 3 a 0 no agregado, com um futebol que hipnotizava: posse de bola alta, laterais ofensivos e um meio-campo que ditava o ritmo.
Foram 91 jogos, 59 vitórias, 19 empates e apenas 13 derrotas – um aproveitamento de 73%. Sampaoli não só ganhou troféus; ele mudou a cultura do clube, transformando jogadores como Gary Medel e Eduardo Vargas em estrelas. Sua saída em 2012, para a seleção chilena, foi saudada como a de um herói. “Ele nos ensinou a sonhar grande”, diria anos depois o presidente da Universidad. Esse período consolidou sua fama como um gênio tático, capaz de extrair o máximo de elencos limitados.
A Era Vermelha: Triunfo na Copa América com o Chile
Assumir a seleção chilena em 2012 foi um desafio colossal. O país vivia uma seca de títulos há décadas, e as expectativas eram gigantes. Sampaoli injetou sangue novo: convocou uma geração misturada com veteranos, priorizando intensidade física e coesão tática. As eliminatórias para a Copa do Mundo de 2014 foram sólidas, com o Chile terminando em terceiro nas Américas. Mas o Mundial no Brasil foi doloroso: vitória heroica sobre a Espanha nas oitavas, mas eliminação nos pênaltis para o Brasil nas quartas.
A redenção veio em 2015, na Copa América em casa. O Chile de Sampaoli enfrentou a Argentina de Messi na final, em Santiago, e venceu nos pênaltis após um 0 a 0 eletrizante. Foi o primeiro título maior da história chilena, uma catarse nacional. Sampaoli chorou no apito final, e o país parou. Sua marca: 39 jogos, 21 vitórias, 10 empates e 8 derrotas. Ele deixou o cargo em 2016, rumo à Europa, mas seu legado na Roja é eterno – um time que jogava com alma, pressionando como se cada partida fosse a última.
De Volta às Raízes: Os Turbulentos Anos na Argentina
Em 2017, Sampaoli assumiu a seleção argentina, um sonho e uma armadilha. Herdou um time estrelado por Messi, mas fragmentado. As eliminatórias para a Copa de 2018 foram um rolo compressor: a Albiceleste se classificou na última rodada, graças a uma vitória sobre o Equador. No Mundial russo, porém, veio a decepção: vitória sofrida sobre a Nigéria, empate com a Islândia, derrota para a Croácia e eliminação nas oitavas para a França. Críticas choveram sobre sua gestão de egos e falta de equilíbrio defensivo.
Demitido em 2018, após 19 jogos com apenas 8 vitórias, Sampaoli voltou aos clubes. No Santos, em 2019, ele brilhou: segundo lugar no Brasileirão, com um futebol ofensivo que encantou a Vila Belmiro. Hulk, Eduardo Sasha e companhia viraram máquinas de gols. Mas a pressão por títulos o levou a sair após um ano. Foi o primeiro flerte sério com o Brasil, um país que ele aprenderia a amar e odiar.
Aventura Europeia: Altos e Baixos em Espanha e França
A Europa testou Sampaoli como nunca. No Sevilla, em 2016, ele chegou como salvador e qualificou o time para a Champions League, terminando em quarto na La Liga. Sua volta em 2022 foi breve e conturbada: demitido após cinco meses, com o time na zona de rebaixamento. “A pressão aqui é diferente, mais fria”, refletiria ele depois.
Em 2021, no Olympique de Marseille, ele implementou seu 3-4-3 característico, levando o time à final da Liga Europa, mas perdeu para o Villarreal. Foram 41 jogos, 22 vitórias. Em 2024, no Rennes, da França, a história se repetiu: contratado em novembro, demitido em janeiro de 2025 após resultados ruins. “A França exige paciência que nem sempre tenho”, admitiu. Esses anos europeus mostraram sua versatilidade, mas também a dificuldade de adaptar seu estilo passional a ligas mais táticas.
O Retorno Apaixonado ao Brasil: Santos, Flamengo e Agora Atlético Mineiro
O Brasil, com sua paixão visceral, parece feito para Sampaoli. Após o Santos, veio o Flamengo em 2023: 164 dias, 39 jogos e a Copa do Brasil no bolso. Mas tensões internas o levaram a sair. Livre desde janeiro de 2025, ele voltou em setembro, assinando com o Atlético Mineiro até dezembro de 2027. O Galo, que ele já havia levado ao título mineiro e da Copa do Brasil em 2020-21, precisava de um novo fôlego.
Sob seu comando, o time adotou novamente a pressão alta e as triangulações rápidas. Em 18 jogos até novembro, foram 7 vitórias, 7 empates e 4 derrotas, com um futebol que empolga a Arena MRV. Hulk, Paulinho e Nacho Fernández se reinventaram, e o Atlético brigou no G-6 do Brasileirão. Sampaoli trouxe de volta a identidade guerreira do clube, focando em uma defesa mais sólida – uma evolução de sua filosofia clássica.
A Final Inesquecível da Copa Sul-Americana 2025: Lições de uma Derrota Heroica
O ponto alto – e amargo – do ano veio na final da Copa Sul-Americana, em 22 de novembro de 2025, em Assunção, no Paraguai. O Atlético Mineiro de Sampaoli enfrentou o Lanús, da Argentina, em um duelo que reacendeu rivalidades antigas. O jogo terminou 0 a 0 no tempo normal e na prorrogação, com o Galo dominando as chances, mas pecando na finalização. Nos pênaltis, o Lanús venceu por 5 a 4, após defesas cruciais do goleiro Valentín Perales.
Sampaoli, visivelmente emocionado, elogiou a entrega de seus jogadores: “Fomos guerreiros até o fim. Essa final nos fortalece para o Brasileirão”. Foi sua chance de conquistar o segundo título continental – ele já tinha a Sul-Americana de 2011 com a U de Chile –, mas a derrota serviu de lição. O técnico lamentou a falta de “poder de fogo” no ataque, mas destacou o esforço coletivo. Agora, olhos no campeonato nacional, onde o Atlético sonha com o título e uma vaga na Libertadores. Essa campanha na Sul-Americana, com vitórias convincentes nas fases anteriores, reviveu a carreira de Sampaoli, mostrando que, aos 65, ele ainda pulsa com a mesma fome.
O Estilo que Define uma Era: Pressão, Intensidade e Inovação
O que torna Sampaoli único é seu DNA tático. Ele adora o 3-4-2-1 ou o 4-3-3 fluido, com laterais que sobem como alas e uma marcação homem a homem que sufoca o rival. Influenciado por Bielsa, ele prega o “futebol total”: todos atacam, todos defendem. Seus times correm mais que a média – estatísticas mostram um aumento de 15% em sprints por partida sob seu comando. Críticos apontam fragilidades defensivas, mas defensores exaltam o espetáculo: “Ele faz o futebol ser arte”, diz um ex-jogador.
Seu legado vai além dos troféus – 437 vitórias em 893 jogos, um aproveitamento de quase 49%. Sampaoli formou gerações, como no Chile, e inspirou técnicos como Eduardo Coudet. No Brasil, ele é visto como um catalisador de talentos, transformando elencos medianos em máquinas competitivas.
Para Onde Vai o Maestro? Um Futuro de Glórias
Aos 65 anos, Sampaoli não pensa em aposentadoria. Seu contrato com o Atlético vai até 2027, e há rumores de interesse de seleções sul-americanas. No Galo, ele busca o tricampeonato mineiro e um Brasileirão que escape das mãos há anos. A derrota na Sul-Americana dói, mas motiva: “Vamos voltar mais fortes”, prometeu ele na coletiva pós-jogo.
Jorge Sampaoli é mais que um técnico; é um contador de histórias em campo. De Casilda aos holofotes mundiais, ele prova que o futebol é sobre crença, adaptação e, acima de tudo, paixão. No Brasil, onde o jogo é religião, ele encontrou um lar. E enquanto houver bola rolando, Sampaoli estará lá, orquestrando sinfonias de gols e corações acelerados.