Enner Valencia
Enner Valencia é daqueles jogadores que transformam o futebol em poesia. Nascido nas areias quentes de San Lorenzo, no Equador, ele carrega no peito não só a camisa de seu país, mas uma história de superação que inspira gerações. Aos 36 anos, o equatoriano segue sendo uma referência no esporte, com uma trajetória que cruza continentes e conquista torcidas. De campos improvisados na infância a estádios lotados na Europa e Ásia, Valencia prova que o talento, aliada à garra, pode levar qualquer um ao topo. Neste artigo, mergulhamos na vida e na carreira desse ícone do futebol sul-americano, destacando seus passos iniciais, as vitórias nos clubes e o brilho pela seleção equatoriana.
Os Primeiros Passos em San Lorenzo
Enner Remberto Valencia Lastra veio ao mundo em 4 de novembro de 1989, em uma família humilde de pescadores e agricultores na província de Esmeraldas. De descendência afro-equatoriana, ele cresceu em meio a praias e manguezais, onde o futebol era mais do que um jogo: era escape e sonho compartilhado. Como muitos garotos da região, Enner chutava bola descalço nas ruas, sonhando com as estrelas do esporte que via na televisão. A pobreza era companheira constante; ele chegou a dormir em alojamentos precários ao ingressar nas categorias de base do Emelec, em Guayaquil, e às vezes mal conseguia uma refeição decente.
Sua entrada no mundo profissional veio em 2005, pelas mãos do modesto Caribe Junior, onde passou três anos se aprimorando. Em 2008, o Emelec o acolheu, e foi ali que o menino de San Lorenzo começou a se transformar em homem de bola. Enner não era o mais veloz nem o mais alto – com 1,77 metro e um físico esguio –, mas compensava com uma visão afiada e um faro de gol invejável. Seus primeiros anos foram de aprendizado duro, mas logo ele mostrou que estava pronto para o palco maior.
A Ascensão nos Clubes: De Guayaquil ao Mundo
A carreira de Valencia nos clubes é um mapa de conquistas e adaptações. Seu debute oficial pelo Emelec, em 2010, marcou o início de uma era dourada para o time equatoriano. Ao longo de quatro temporadas, ele disputou 130 partidas e balançou as redes 27 vezes, ajudando o clube a erguer o título da Serie A equatoriana em 2013. Naquele ano, brilhou na Copa Sul-Americana, onde foi o artilheiro com cinco gols, provando que podia decidir em competições continentais.
O salto para a Europa veio em 2014, mas antes disso, uma parada no México mudou tudo. Contratado pelo Pachuca, Enner explodiu: em apenas 23 jogos no Clausura, marcou 18 gols e levou para casa a Chuteira de Ouro da Liga MX. Foi seu primeiro hat-trick na carreira, um sinal de que o mundo estava pronto para conhecê-lo. Logo em seguida, o West Ham United, da Premier League, apostou alto: cerca de 12 milhões de libras para levá-lo a Londres. Lá, entre 2014 e 2016, ele jogou 54 partidas e fez oito gols, adaptando-se ao ritmo frenético do futebol inglês. Não foi fácil – lesões e a pressão o testaram –, mas Valencia mostrou resiliência.
Em 2016, um empréstimo ao Everton trouxe mais 21 jogos e três gols, incluindo momentos de brilho contra rivais clássicos. De volta ao México em 2017, pelo Tigres UANL, ele encontrou estabilidade. Foram 95 partidas e 21 gols, com títulos no Apertura de 2017 e Clausura de 2019. Na Liga dos Campeões da CONCACAF de 2019, foi o artilheiro com sete gols, levando o time à final. Tigres se tornou um lar, onde ele aprendeu a liderar dentro de campo.
A Turquia o esperava em 2020, com o Fenerbahçe. Gratuito, mas cheio de ambição, Enner assinou por três anos e entregou 48 gols em 90 jogos. Em 2022-23, tornou-se o maior artilheiro da Süper Lig, com 29 tentos, e ergueu a Copa da Turquia. Hat-tricks na Liga Europa e até um poker de gols marcaram sua passagem, transformando-o em ídolo em Istambul. Foi ali que ele amadureceu como capitão e mentor.
Em junho de 2023, o Internacional, do Brasil, o trouxe para o Beira-Rio. Contrato de três anos, 81 jogos e 22 gols até 2025. No Brasileirão, Valencia foi decisivo: gols contra Bolívar e River Plate na Libertadores, e uma goleada histórica de 7 a 1 sobre o Santos. A torcida colorada o adotou como filho, celebrando sua velocidade e precisão. Mas, em setembro de 2025, uma rescisão surpresa o levou de volta ao Pachuca, clube de coração. Até novembro, nove partidas e três gols no Apertura 2025-26, mostrando que, aos 36, ainda tem lenha para queimar.
O Orgulho Equatoriano: Capitão e Artilheiro da Seleção
Pela seleção do Equador, Valencia é sinônimo de glória. Estreou em 2012, em um amistoso contra Honduras, e desde então acumula 103 jogos e 48 gols – o maior artilheiro da história tricolor. Capitão desde 2020, ele carrega o peso e a honra de liderar uma nação apaixonada por futebol.
As Copas do Mundo são seu palco favorito. Em 2014, no Brasil, marcou três gols, incluindo uma virada histórica com dois contra Honduras. Em 2022, no Catar, mais três: um brace na estreia contra o Qatar e outro contra a Holanda. São seis gols em Mundiais, recorde equatoriano. Nas Copas América – 2015, 2016, 2019, 2021 e 2024 –, ele sempre foi o homem-gol, com atuações que levaram o Equador a oitavas e quartas de final.
Em 2025, o Equador se classificou para sua terceira Copa do Mundo consecutiva, e Valencia, aos 35, será o veterano guiando os mais jovens. Seus sete gols nas últimas 11 partidas da seleção mostram que o fogo ainda arde. Ele não só marca, mas inspira: dribles curtos, chutes colocados e uma entrega que contagia.
Conquistas que Ficam na Memória
A prateleira de troféus de Valencia reflete uma carreira versátil. No México, duas Ligas MX com Tigres e a CONCACAF Champions League em 2020. Na Turquia, a Copa e o título de artilheiro. No Equador, a Serie A com Emelec. Individualmente, Chuteiras de Ouro na Liga MX e Süper Lig, além do posto de maior goleador equatoriano. São mais de 300 gols na carreira profissional, um legado que vai além dos números.
Além das Quatro Linhas: A Vida Fora de Campo
Fora do gramado, Enner é um homem de família e raízes firmes. Casado e pai, ele usa sua visibilidade para causas sociais no Equador, como apoio a comunidades pobres em Esmeraldas. Em 2016, enfrentou um escândalo com pensão alimentícia não paga, mas resolveu o caso extrajudicialmente. Mais grave foi em 2020, quando sua irmã Erci foi sequestrada por uma gangue em San Lorenzo – libertada após dez dias, o episódio abalou a família, mas reforçou sua conexão com as origens.
Valencia é devoto católico, e sua fé o guia nos momentos difíceis. Ele fala abertamente sobre as dificuldades da infância, incentivando jovens a perseguirem sonhos. No Brasil, durante sua passagem pelo Inter, integrou-se à cultura gaúcha, aprendendo português e elogiando a hospitalidade local.
Atualizações de 2025: Lesão e o Olhar para o Futuro
O ano de 2025 tem sido de altos e baixos para Valencia. Seu retorno ao Pachuca em setembro trouxe nostalgia e gols rápidos – três em nove jogos –, mas uma lesão muscular, anunciada em 24 de novembro, o tirou de ação por cerca de três semanas. Isso afeta o fim da temporada mexicana e uma amistoso contra a Nova Zelândia, onde o Equador testava formações para a Copa de 2026.
Sem ele, o técnico Sebastián Beccacece sente o peso: Valencia é autor de sete dos últimos 11 gols da seleção. Ainda assim, o capitão deve voltar em dezembro, pronto para os playoffs da Liga MX e os preparativos mundiais. Rumores de uma extensão com Pachuca circulam, mas Enner foca no presente: “O futebol é agora, não amanhã”, disse em entrevista recente.
No Inter, sua saída pegou de surpresa, mas deixou gratidão. Ele marcou 31 gols em 100 jogos, incluindo momentos épicos na Libertadores. Para 2026, o Equador sonha alto, e Valencia, com sua experiência, é o pilar. Aos 36, ele planeja uma despedida digna, talvez na Copa do Mundo nos EUA, México e Canadá.
Um Legado que Transcende Fronteiras
Enner Valencia não é só um jogador; é um símbolo de perseverança. De San Lorenzo aos holofotes globais, ele mostrou que o talento latino pode brilhar em qualquer liga. Sua jornada inspira não só equatorianos, mas fãs pelo mundo – prova de que o futebol une, emociona e transforma vidas. Enquanto o mundo espera sua próxima façanha, uma coisa é certa: Enner continuará desenhando sonhos no gramado, com a mesma paixão de sempre.