Beatriz Mesquita
Beatriz Mesquita, ou simplesmente Bia para os mais próximos, é uma das figuras mais inspiradoras do mundo das artes marciais. Nascida em 7 de abril de 1991, no Brasil, ela representa não só a força e a determinação de uma atleta de elite, mas também a essência da cultura brasileira nas lutas. Conhecida como “Lady GOAT” – uma referência ao seu status de maior de todos os tempos no jiu-jitsu –, Bia Mesquita tem uma trajetória que começou nas quadras de treinamento infantis e chegou ao octógono do Ultimate Fighting Championship (UFC). Com um cartel invicto de 6-0 no MMA profissional e um legado inigualável no jiu-jitsu brasileiro, sua história é de superação, técnica impecável e paixão pelo esporte. Neste artigo, mergulhamos na vida dessa guerreira que, em outubro de 2025, acaba de fazer sua estreia triunfal no UFC, consolidando-se como uma das promessas mais empolgantes da divisão peso-galo feminina.
Infância e os Primeiros Passos no Jiu-Jitsu
A jornada de Beatriz Mesquita começou cedo, como tantas histórias de sucesso no Brasil. Aos cinco anos, em 1996, ela pisou pela primeira vez no tatame, em uma academia no Rio de Janeiro. Naquela época, o jiu-jitsu era apenas uma brincadeira para uma menina cheia de energia, mas logo se transformou em algo maior. Além do jiu-jitsu, Bia praticava judô, luta livre e natação, atividades que moldaram seu corpo atlético e sua mente competitiva desde cedo.
Aos dez anos, os frutos já apareciam. Ela conquistou o Campeonato Brasileiro Júnior, três títulos estaduais e vários torneios importantes. Esse talento precoce chamou a atenção de treinadores renomados. Foi então que Bia foi convidada para treinar com a lenda Letícia Ribeiro, na academia Tijuca, no Rio de Janeiro. Letícia, uma das maiores faixas-pretas da história do jiu-jitsu, viu potencial na jovem aluna e a adotou como uma espécie de herdeira espiritual. “Treinar com Letícia foi como encontrar uma segunda família”, Bia costuma dizer em entrevistas. Sob a orientação dela, Bia aprendeu não só técnicas, mas também a disciplina e a humildade que seriam marcas registradas de sua carreira.
Esses anos iniciais foram fundamentais. Bia competia em categorias juvenis, acumulando vitórias que a colocavam no radar das federações. Ela equilibrava os treinos intensos com a escola, uma rotina comum para jovens atletas brasileiros que sonham alto. Aos 15 anos, já era faixa-roxa e vencia torneios internacionais. Sua dedicação era inabalável: acordava às 5 da manhã para correr na praia de Copacabana e voltava à academia à noite, exausta, mas motivada. Essa base sólida no jiu-jitsu a preparou para os desafios que viriam, transformando-a de uma criança curiosa em uma competidora implacável.
A Ascensão no Mundo do Jiu-Jitsu Brasileiro
O jiu-jitsu não era só um esporte para Beatriz; era sua identidade. Aos 18 anos, ela se tornou faixa-preta, um marco que poucos alcançam tão jovens. Sob a linhagem Gracie – de Royler Gracie a Helio Gracie, passando por Vini Aieta e Letícia Ribeiro –, Bia carregava o peso de uma tradição centenária. Mas ela não se contentou em ser apenas mais uma. Sua carreira competitiva explodiu nos anos seguintes, com conquistas que a colocaram no panteão das maiores atletas da modalidade.
Entre 2009 e 2021, Bia acumulou 24 títulos em nível faixa-preta nos quatro principais campeonatos de kimono: IBJJF Worlds, Pan-Americanos, Europeus e Brasileiros. O destaque? Dez medalhas de ouro nos Mundiais da IBJJF, um recorde absoluto para mulheres na faixa-preta. Em 2013, ela venceu o ADCC, o torneio mais prestigiado de grappling sem kimono, provando que sua técnica transcendia as regras do gi. “O ADCC foi o teste definitivo. Lá, não há escapatória”, ela refletiu anos depois.
Seus treinos eram lendários. Bia viajava o mundo, competindo em Abu Dhabi, Los Angeles e São Paulo, enfrentando as melhores do planeta. Em 2015, ela defendeu o título mundial três vezes seguidas, uma façanha que a rendeu o apelido de “Lady GOAT”. Mas nem tudo eram flores. Lesões, como uma fratura no braço em 2017, testaram sua resiliência. “O jiu-jitsu me ensinou a cair e levantar mais forte”, diz ela. Sua abordagem técnica era única: uma mistura de guarda aberta fluida, transições rápidas e finalizações precisas, como o mata-leão que se tornaria sua assinatura.
Em 2021, Bia alcançou o quarto grau de faixa-preta, uma honra reservada aos mais dedicados. Ela se tornou embaixadora do esporte, ministrando seminários e inspirando uma nova geração de meninas no Brasil. Seu impacto ia além das medalhas: Bia ajudou a popularizar o jiu-jitsu feminino, mostrando que o tatame não tem gênero. Aos 30 anos, com um currículo invejável, ela começou a sonhar com algo maior – o MMA.
A Transição para o MMA: Um Novo Capítulo
Em 2023, aos 32 anos, Beatriz Mesquita decidiu dar um passo ousado: migrar para o mixed martial arts. O jiu-jitsu a tornara imortal, mas o octógono chamava. “Queria testar minhas habilidades em um ambiente completo, com socos, chutes e quedas”, explicou ela em uma entrevista ao site da UFC. A transição não foi fácil. Bia, acostumada ao grappling puro, precisava aprender a lidar com o striking e a pressão do cage.
Ela se mudou para Coconut Creek, na Flórida, para treinar na American Top Team (ATT), uma das academias mais respeitadas do mundo. Lá, dividia o tatame com nomes como Kayla Harrison, sua parceira de treino e mentora. “Kayla me mostrou como adaptar o jiu-jitsu ao MMA. Ela é uma inspiração”, conta Bia. Os treinos eram brutais: sparrings com strikers duros, drills de defesa de trocação e sessões de condicionamento que duravam horas. Bia investiu em muay thai e wrestling para complementar sua base, transformando fraquezas em forças.
Sua estreia profissional no MMA veio em junho de 2023, em um evento regional nos Estados Unidos. Contra uma adversária experiente, Bia finalizou com um mata-leão no primeiro round, em menos de três minutos. Foi um statement: o jiu-jitsu da “Lady GOAT” funcionava no octógono. “Senti o adrenalina misturada com a técnica que eu amo”, descreveu ela pós-luta. Essa vitória a motivou a prosseguir, e logo veio uma sequência invicta que chamou atenção de promotores maiores.
Carreira Profissional no MMA: Vitórias Ininterruptas
O cartel de Beatriz no MMA é curto, mas impressionante. Com apenas seis lutas até outubro de 2025, ela manteve 100% de aproveitamento, com quatro finalizações – três por mata-leão. Sua abordagem é cirúrgica: usa o wrestling para derrubar, o ground and pound para desgastar e o jiu-jitsu para finalizar. Vamos aos destaques.
A Estreia e as Primeiras Conquistas Regionais
Após a estreia em 2023, Bia lutou em eventos menores na Flórida, acumulando vitórias rápidas. Em setembro de 2023, ela enfrentou uma striker americana e venceu por nocaute técnico no segundo round, mostrando evolução na trocação. Em dezembro, outra finalização por armlock, provando versatilidade. Essas lutas a prepararam para o salto maior: o Legacy Fighting Alliance (LFA), uma das principais ligas regionais dos EUA.
Em março de 2025, no LFA 203, Bia enfrentou Hope Chase, uma veterana com experiência em grappling. A luta foi intensa, mas Chase cometeu uma falta – uma pedalada ilegal – no segundo round, resultando em desqualificação. Bia saiu com a vitória, mas o incidente a deixou com um corte no orbital, que felizmente era superficial. “Aprendi a manter a calma mesmo no caos”, disse ela. Essa luta elevou seu nome, e em junho de 2025, veio o título.
O Título no LFA: Consagração Regional
No LFA 211, em 20 de junho de 2025, Bia disputou o cinturão vago peso-galo contra Sierra Dinwoodie, uma campeã anterior. A luta foi um espetáculo de domínio. Bia derrubou Dinwoodie no primeiro round, passou a guarda e finalizou com um rear-naked choke aos 4:32. Aos 34 anos, ela se tornou campeã do LFA, com apenas cinco lutas profissionais. “Esse cinturão é para o Brasil e para todas as meninas que treinam jiu-jitsu”, declarou Bia ao erguer o hardware. Sua performance chamou atenção imediata do UFC.
Estreia no UFC: O Triunfo em Casa
O sonho se realizou em julho de 2025, quando Bia assinou com o UFC. Sua estreia foi marcada para 11 de outubro, no UFC Fight Night 261, em Rio de Janeiro – sua terra natal. Contra Irina Alekseeva, apelidada de “Russian Ronda”, uma lutadora com base em judô mas em má fase (duas derrotas seguidas no UFC), Bia entrou como favorita absoluta.
O evento, apelidado de UFC Rio, lotou a arena com fãs brasileiros enlouquecidos. Bia, com o peso das expectativas, não decepcionou. No primeiro round, ela absorveu alguns golpes, mas derrubou Alekseeva e montou em ground and pound, abrindo cortes na russa. No segundo, veio a magia: transições fluidas levaram a um rear-naked choke perfeito aos 2:45. A torcida explodiu. “Estrear em casa com uma finalização é inesquecível. Sinto o apoio do Brasil inteiro”, vibrou Bia no microfone.
Essa vitória, sua sexta consecutiva, a coloca como 6-0 no MMA pro. Analistas destacam sua adaptação rápida: em 16 meses de carreira, ela já é campeã regional e estrela no UFC. No dia 12 de outubro de 2025, Bia acordou como notícia em todos os portais esportivos brasileiros, com elogios de ídolos como Anderson Silva e José Aldo.
Vida Pessoal: Equilíbrio Fora do Tatame
Fora do cage, Beatriz é uma mulher equilibrada e apaixonada. Em janeiro de 2021, ela se noivou com Patrick Gaudio, outro competidor de jiu-jitsu, em uma cerimônia romântica no Rio. “Patrick me apoia em tudo, desde os treinos até as viagens”, conta ela. O casal divide o tempo entre a Flórida e o Brasil, sonhando com uma família no futuro.
Bia é ativa nas redes sociais, compartilhando treinos, receitas saudáveis e mensagens de empoderamento. Ela apoia projetos sociais no Rio, como academias gratuitas de jiu-jitsu para meninas de comunidades. Sua dieta é rigorosa – arroz, feijão, frutas e proteínas magras –, e ela pratica ioga para manter a mente serena. “O MMA me ensinou que a vida é como uma luta: você planeja, mas adapta”, filosofa Bia.
Legado e o Futuro: Uma Estrela em Ascensão
O legado de Beatriz Mesquita é vasto. No jiu-jitsu, ela é imbatível: recordista de títulos mundiais, embaixadora da modalidade. No MMA, sua ascensão é meteórica – de novata a ameaça no UFC em menos de dois anos. Sua mentalidade de “Lady GOAT” – humilde, mas confiante – inspira atletas globais.
Olhando para frente, Bia mira o topo da divisão peso-galo. Após a vitória sobre Alekseeva, ela pediu uma luta ranqueada em 2026, possivelmente contra nomes como Holly Holm ou Irene Aldana. “Quero o cinturão, mas acima de tudo, entreter os fãs”, afirma. Com o apoio da ATT e do Brasil, seu caminho parece pavimentado para glórias maiores.
Em outubro de 2025, Beatriz Mesquita não é só uma lutadora; é um símbolo de perseverança. De garota do Rio ao octógono do UFC, sua história continua a ser escrita, uma finalização de cada vez. O mundo das lutas nunca esteve tão animado para o que vem por aí.