Gabriel Taliari: A Trajetória de um Talento Brasileiro no Gramado

Gabriel Taliari

Gabriel Taliari tem sido uma das figuras mais consistentes no futebol brasileiro em 2025. Com 28 anos recém-completados, o atacante do Esporte Clube Juventude marcou o gol da vitória por 1 a 0 sobre o Santos na noite de 3 de dezembro, em um jogo que selou a luta do time gaúcho contra o rebaixamento na Série A. Esse tento, um chute preciso de fora da área, não só reacendeu a esperança dos torcedores no Alfredo Jaconi, mas também reforçou o quanto Taliari se tornou indispensável para o Papo. Nascido em Arceburgo, no sul de Minas Gerais, e criado em Mococa, interior de São Paulo, ele representa o sonho de muitos garotos que trocam a bola com os pés descalços nas ruas poeirentas do Brasil profundo. Sua história é de persistência, gols decisivos e uma paixão que transborda em cada partida.

Em uma temporada marcada por altos e baixos para o Juventude, que terminou em 19º lugar e caiu para a Série B, Taliari brilhou com 8 gols e 4 assistências em 32 jogos pela liga nacional. Seus números vão além das estatísticas: ele é o artilheiro do time e o jogador que mais finalizações arriscou, com uma média de 2,3 por partida. Fora de campo, rumores de interesse de clubes como Vasco, Fluminense e até equipes do exterior circulam, impulsionados por sua performance recente. Mas para entender o presente de Gabriel, é preciso voltar às raízes.

Infância e os Primeiros Chutes na Bola

Gabriel Pereira Taliari veio ao mundo em 13 de abril de 1997, em uma família humilde de Arceburgo, uma cidadezinha de pouco mais de 35 mil habitantes cercada por fazendas de café e pastagens verdejantes. Logo após o nascimento, a família se mudou para Mococa, a 40 quilômetros dali, em busca de melhores oportunidades. Foi nas ruas arborizadas e nos campinhos improvisados dessa cidade paulista que o menino Gabriel descobriu o futebol. “Eu jogava o dia inteiro, sem parar”, recordou ele em uma entrevista ao site oficial do Juventude. O apelido “Bill”, inspirado no lendário Pelé, veio naturalmente entre os amigos, que viam nele um driblador nato e um finalizador nato.

Aos 15 anos, em 2012, Taliari entrou para as categorias de base do Radium Futebol Clube, time local de Mococa. Naquele ano, ele se destacou como artilheiro do Campeonato Paulista Sub-15, com números impressionantes que chamaram a atenção de olheiros maiores. “Foi ali que eu soube que isso poderia ser profissão”, contou. O Radium, conhecido por revelar talentos para clubes paulistas, serviu como rampa de lançamento. Em 2015, com apenas 18 anos, ele subiu para o time principal do EC São Bernardo, na Segunda Divisão do Campeonato Paulista. Sua estreia foi modesta, mas logo veio o primeiro gol profissional: um empate em 1 a 1 contra o Mauaense, em uma cobrança de pênalti que ele mesmo converteu com frieza.

Esses anos iniciais moldaram o caráter de Taliari. Longe de holofotes, ele aprendeu a valorizar cada oportunidade. Em São Bernardo, fez 25 jogos e marcou 5 gols, números que o levaram para o Capivariano em 2016. Ali, dividia o dia entre treinos e empregos informais para ajudar em casa. “O futebol não era garantido, então eu trabalhava como ajudante em uma oficina mecânica”, revelou em uma conversa com o jornal O Estado de S. Paulo. Foi no Capivariano que ele explodiu nas categorias de base: artilheiro da Copa São Paulo de Futebol Júnior em 2017, com 4 gols, e destaque no Paulista Sub-20.

Os Desafios da Profissionalização e os Primeiros Títulos

O salto para o profissional veio com força em 2017, ainda pelo Capivariano, na Série A2 do Paulista. Apesar do rebaixamento do time, Taliari balançou as redes 5 vezes em 12 partidas, mostrando um faro de gol que misturava velocidade e inteligência tática. Sua versatilidade – jogando como meia-atacante ou centroavante – o diferenciava. Emprestado para o Água Santa na Copa Paulista daquele ano, ele fez mais 2 gols em 11 jogos, consolidando seu nome no interior de São Paulo.

O ano de 2018 marcou a virada. No Capivariano, pela Série A3, ele se tornou o artilheiro da competição com 16 gols em 21 jogos, totalizando 21 em todas as disputas – um recorde que o colocou no radar de clubes da elite. Foi assim que, em abril, o Athletico Paranaense o contratou por empréstimo. Sua estreia na Série A, contra o Fluminense, foi nervosa, mas ele mostrou garra em 3 jogos sem gols. Nos reservas, marcou uma vez em 12 partidas. O auge veio em 2019: no Campeonato Paranaense, Taliari foi peça-chave na conquista do título pelo Furacão. Seu gol de bicicleta na semifinal contra o Rio Branco, em uma vitória por 3 a 0, virou ícone – um chute acrobático que ecoou nas redes sociais e nos corações dos torcedores paranaenses.

Ainda em 2019, emprestado ao Mirassol para a Copa Paulista, ele foi o artilheiro do clube com 10 gols em 23 jogos, incluindo um hat-trick memorável. “Mirassol me deu confiança para jogar sem medo”, disse. No fim do ano, foi para o Ituano, onde o contrato se estendeu por causa da pandemia de Covid-19. Em 2020 e 2021, fez 45 jogos e 10 gols, incluindo um na Série C contra o Água Santa e outro decisivo contra a Ponte Preta. Sua adaptação à rotina profissional era evidente: treinos intensos, dieta rigorosa e foco mental.

Superação de Lesões e Retorno Triunfante

Nem tudo foram flores. Em 2021, no empréstimo ao Brusque pela Série B, Taliari estreou marcando de pênalti contra o Avaí, mas uma lesão grave no joelho – ruptura do ligamento cruzado anterior e menisco – o tirou dos gramados por meses. “Foi o momento mais difícil. Pensei em desistir”, admitiu em podcast do ge.globo. A recuperação foi árdua: fisioterapia diária, noites de dor e o medo do esquecimento. O contrato com o Brusque foi prorrogado, e ele voltou em julho de 2022, jogando 16 partidas e marcando 1 gol. A lição? Resiliência.

2023 foi de rodízio: no Santo André, 3 gols na Copa Paulista; no CSA, 5 na Série C e 3 em outras competições. O ponto alto veio no fim do ano, com o empréstimo ao Juventude na Série B. Em 11 jogos, 6 gols – incluindo um hat-trick que ajudou na promoção do time à elite. “Juventude me abraçou como família”, declarou. Em janeiro de 2024, o contrato foi tornado definitivo, até dezembro de 2026, por cerca de 170 mil euros.

Destaque no Juventude e o Brilho de 2025

No Juventude, Taliari encontrou casa. Na Série A de 2024, fez 4 gols em 21 jogos, ajudando o time a se manter na elite. Mas 2025 foi seu ano de afirmação. Com 8 gols e 4 assistências, ele foi o motor ofensivo do Papo, que lutou até o fim contra o descenso. Destaques incluem um doblete contra o Vitória em março, na vitória por 2 a 0, e assistências cruciais contra Fortaleza e Atlético-MG. Sua taxa de conversão de chances em gol chegou a 34%, e ele liderou o time em dribles bem-sucedidos (1,9 por jogo).

O jogo contra o Santos, em 3 de dezembro, simbolizou sua temporada. Com o Juventude precisando de uma vitória improvável para escapar do rebaixamento, Taliari cobrou falta com maestria aos 26 minutos do primeiro tempo, mandando a bola no ângulo. O estádio explodiu, e as redes sociais fervilharam com elogios. “Taliari é o cara que faz acontecer”, tuitou o jornalista Fernando Campos, da CazéTV. No pós-jogo, ele dedicou o gol à torcida: “Eles merecem isso. Vamos brigar até o apito final”.

Fora das quatro linhas, Taliari se envolve em ações sociais em Mococa, visitando escolinhas de futebol e doando equipamentos. Casado e pai de uma filha de 3 anos, ele equilibra a vida familiar com a pressão do esporte. Seu agente, da Elite Sports Management, nega rumores de saída imediata, mas o mercado ferve: Vasco e Fluminense sondam, atraídos por seu custo-benefício (valor de mercado em torno de 900 mil euros).

O Legado em Construção e o Futuro no Horizonte

Gabriel Taliari não é só números; é inspiração. De menino de interior a artilheiro da Série A3 em 2018, de lesionado anônimo a herói do Juventude, sua jornada reflete o futebol brasileiro: imprevisível, mas cheio de garra. Com 208 jogos e 65 gols na carreira até agora, ele sonha com a Seleção – um passo que veio perto em convocações de base. “Quero deixar um legado de superação”, diz.

Em 2026, com o Juventude na Série B, Taliari pode ser o pilar da reconstrução ou partir para novos desafios. Seja onde for, sua história continua a motivar. No gramado ou nas ruas de Mococa, o “Bill” de Arceburgo prova que o talento, somado à persistência, vence barreiras. E o Brasil do futebol agradece por mais um capítulo dessa saga.