Introdução
Bernardo Rocha de Rezende, conhecido carinhosamente como Bernardinho, é uma das figuras mais emblemáticas do esporte brasileiro. Nascido no Rio de Janeiro em 25 de agosto de 1959, ele construiu uma carreira lendária no voleibol, passando de jogador talentoso a um dos treinadores mais vitoriosos da história do esporte. Com mais de 30 títulos em competições nacionais e internacionais, Bernardinho não é apenas um técnico; ele é um símbolo de dedicação, disciplina e paixão pelo vôlei. Sua influência vai além das quadras, inspirando gerações de atletas e torcedores. Nesta reportagem, exploramos sua trajetória completa, desde os primeiros passos no esporte até as conquistas mais recentes, em um momento em que, em setembro de 2025, ele lidera a seleção masculina brasileira no Campeonato Mundial de Vôlei.
Infância e Primeiros Passos no Esporte
A história de Bernardo Rezende começa nas ruas e praias do Rio de Janeiro, uma cidade que sempre pulsou com energia esportiva. Filho de uma família de classe média, ele cresceu em um ambiente onde o esporte era parte do dia a dia. Aos 11 anos, Bernardo descobriu o voleibol por meio de amigos da escola, atraído pela dinâmica coletiva e pela adrenalina das jogadas rápidas. Seus primeiros treinos foram informais, em quadras de bairro, mas logo ele se destacou pela agilidade e pela inteligência tática, qualidades que marcariam toda a sua carreira.
Enquanto estudava economia na Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-RJ), Bernardo equilibrava aulas e treinos. Sua formação acadêmica era rigorosa, com foco em análise de dados e planejamento estratégico – habilidades que, anos depois, ele aplicaria nos bancos de reserva. Em 1979, aos 20 anos, ele ingressou no Fluminense Football Club, um dos berços do voleibol carioca. Ali, sob a orientação de treinadores experientes, Bernardo aprendeu os fundamentos do jogo: bloqueio, saque e defesa. Seus colegas de equipe lembram dele como um jogador incansável, sempre o primeiro a chegar e o último a sair da quadra.
Essa fase inicial foi marcada por desafios pessoais. O voleibol profissional no Brasil dos anos 1970 ainda era incipiente, com poucos recursos e pouca visibilidade. No entanto, Bernardo via no esporte uma oportunidade de superação. Ele competia em torneios regionais, representando o Rio contra times de São Paulo e Minas Gerais, e aos poucos construiu uma reputação de atleta versátil. Sua dedicação o levou à seleção brasileira sub-21, onde ele começou a sonhar com as Olimpíadas. Esses anos formativos moldaram não só seu corpo, mas também sua mente, ensinando-o o valor da persistência em meio às derrotas iniciais.
Carreira como Jogador Profissional
A transição para o profissionalismo veio em 1980, quando Bernardo assinou com o Flamengo, rival do Fluminense. Vestir a camisa rubro-negra foi um marco: o clube era uma potência no voleibol brasileiro, com elencos repletos de estrelas. Como levantador, Bernardo se destacava pela precisão nos passes e pela visão de jogo, distribuindo bolas com maestria para os atacantes. Em 1982, ele ajudou o Flamengo a conquistar o Campeonato Brasileiro, um título que solidificou sua posição como um dos melhores jogadores do país.
Sua convocação para a seleção brasileira masculina ocorreu em 1983, sob o comando do técnico Carlos Leite. Bernardo integrou o time que se preparava para os Jogos Olímpicos de Los Angeles, em 1984. Aquela equipe, conhecida como “Dream Team” brasileiro, era uma mistura de juventude e experiência. Bernardo, com 24 anos, era um dos pilares do meio de rede. Nas Olimpíadas, o Brasil enfrentou potências como Estados Unidos e Itália, e Bernardo contribuiu com defesas cruciais e saques potentes. O resultado foi histórico: a medalha de prata, a primeira do voleibol brasileiro em Jogos Olímpicos. Ele marcou pontos decisivos na final contra os americanos, mas a derrota por 3-0 deixou um gosto amargo que o motivaria para o futuro.
Após Los Angeles, Bernardo continuou jogando até 1986, atuando também pelo Botafogo e pela seleção em torneios como a Copa do Mundo de 1985. Sua carreira como atleta foi interrompida precocemente por lesões no joelho, mas ele acumulou mais de 200 jogos internacionais. Jogadores da época, como o líbero Douglas Chiarotti, descrevem Bernardo como um “líder natural”, alguém que motivava o time nos momentos de pressão. Essa fase terminou aos 27 anos, mas não sem deixar um legado: Bernardo aprendeu a ler o jogo de dentro para fora, uma lição que ele levaria para o lado oposto da quadra.
A Transição para o Mundo da Treinagem
Encerrar a carreira como jogador poderia ter sido o fim de uma era para Bernardo, mas foi, na verdade, o início de outra ainda mais brilhante. Em 1988, ele aceitou o convite para ser assistente-técnico da seleção masculina nas Olimpíadas de Seul, ao lado de Bebeto de Freitas. Ali, Bernardo mergulhou no estudo tático: analisava vídeos de adversários, planejava estratégias e gerenciava o psicológico dos atletas. A experiência em Seul, onde o Brasil terminou em quarto lugar, foi um batismo de fogo. Ele viu de perto as falhas que levavam a derrotas e jurou corrigi-las em sua própria liderança.
Seu primeiro cargo como técnico principal veio em 1990, na Itália, treinando a equipe feminina do Perugia. A liga italiana era o epicentro do voleibol europeu, com ginásios lotados e orçamentos milionários. Bernardo enfrentou o desafio de adaptar seu estilo brasileiro – mais intuitivo e criativo – ao rigor tático dos italianos. Em dois anos, ele levou o Perugia às semifinais da liga nacional, conquistando respeito dos rivais. Em 1993, ele mudou para o Modena, agora com o time masculino, e implementou treinamentos intensos de condicionamento físico, algo revolucionário na época.
De volta ao Brasil em 1994, Bernardo assumiu a seleção feminina adulta. O time era promissor, com jogadoras como Ana Moser e Leila, mas faltava organização. Ele introduziu rotinas de musculação diária, algo incomum para mulheres no esporte, e enfatizou a importância da nutrição e do descanso. Seus treinos eram exaustivos: sessões de seis horas, com foco em repetições perfeitas. As atletas reclamavam, mas os resultados vieram rápido. Em 1995, o Brasil venceu o Campeonato Sul-Americano, e Bernardo começou a ser chamado de “Bernardinho”, um apelido carinhoso que misturava seu nome com o de um personagem de TV.
Sucessos com a Seleção Feminina
O período de 1994 a 2016 na seleção feminina é o capítulo mais dourado da carreira de Bernardinho. Ele transformou um time mediano em uma máquina de vitórias, conquistando seis medalhas olímpicas consecutivas – um feito inédito no voleibol mundial. Tudo começou em Atlanta 1996, com o bronze, uma surpresa que reacendeu o sonho olímpico das brasileiras. Quatro anos depois, em Sydney 2000, veio a prata, perdida para Cuba na final. Mas Bernardinho não se abateu; ele usou a derrota como combustível.
O ouro em Atenas 2004 escapou por pouco (bronze), mas em Pequim 2008, com estrelas como Jaqueline e Sheilla, o Brasil dominou o torneio. A final contra os Estados Unidos foi épica: 3-1 para as brasileiras, com Bernardinho gritando instruções da beira da quadra. Em Londres 2012, outro ouro, consolidando o reinado. A prata em Rio 2016, em casa, foi agridoce, mas emocionante – o Maracanãzinho explodiu com a torcida.
Além das Olimpíadas, os títulos se multiplicaram: três Campeonatos Mundiais (1994, 2006, 2010? Espera, correção: Mundial 2006 não, mas Copa do Mundo 1994, 2003, etc.), duas Copas do Mundo e inúmeras Ligas das Nações. Bernardinho inovou com a “seleção de ouro”, mesclando veteranas com jovens talentos como Fabiana e Thaísa. Seu método era holístico: ele contratou psicólogos, nutricionistas e até massagistas, criando um ambiente de excelência. Atletas como Dani Lins contam que seus discursos motivacionais, cheios de referências bíblicas e filosóficas, eram o segredo para os momentos de crise.
Comando da Seleção Masculina
Em 2001, Bernardinho assumiu a seleção masculina, um desafio ainda maior. O time tinha talentos como Giba e Ricardinho, mas precisava de coesão. Seu primeiro grande teste foi a Liga Mundial de 2001, vencida com maestria. Nas Olimpíadas de Atenas 2004, o ouro veio após uma campanha impecável, com vitórias sobre Sérvia e Itália. A final contra a Polônia foi um espetáculo de bloqueios e ataques fulminantes.
Em Pequim 2008, a prata veio após derrota para os EUA, mas Bernardinho reagrupou o time para Londres 2012, onde o ouro foi reconquistado em uma final tensa contra a Itália. Até Rio 2016, ele acumulou três ouros mundiais (2002, 2006, 2010), duas Copas do Mundo e oito Ligas Mundiais. Seu estilo era implacável: treinos que duravam até a exaustão, com foco em defesa e saque. Jogadores como Bruno Rezende, seu filho, creditam a ele a mentalidade vencedora.
Após 2016, Bernardinho se afastou para priorizar a família, mas em 2021 treinou a seleção francesa por seis meses, levando-os às semifinais da Liga das Nações. Em dezembro de 2023, ele retornou à seleção masculina brasileira para os Jogos de Paris 2024, onde o Brasil conquistou o bronze – um resultado sólido em uma transição geracional.
Passagens por Clubes e Outras Conquistas
Além das seleções, Bernardinho brilhou em clubes. No Brasil, ele treinou o Flamengo (1997-2000), conquistando o Campeonato Brasileiro, e o Rio de Janeiro (2003-2010), com múltiplos títulos da Superliga. Internacionalmente, suas passagens pela Itália foram fundamentais para absorver técnicas europeias. Em 2017, ele assumiu o Sesc RJ, levando o time a vice-campeonatos na Superliga e inspirando jogadoras como Gabi Guimarães.
Fora das quadras, Bernardinho é empresário. Ele fundou a NR Sports, uma agência de marketing esportivo, e é palestrante requisitado, com livros como “Seis Segredos para o Sucesso” vendendo milhares de cópias. Sua fundação, Instituto Reação, apoia projetos sociais no Rio, usando o esporte para combater a desigualdade. Em 2013, ele foi eleito o melhor treinador do mundo pela FIVB, e em 2022 entrou no Hall da Fama do Voleibol.
Vida Pessoal e Legado
Bernardinho é casado com Giselle since 1987, e tem dois filhos: Bruna (jornalista) e Bruno (levantador da seleção). Sua fé católica é central em sua vida, guiando decisões difíceis. Ele é avô recente, e a família é seu porto seguro após anos de viagens.
Seu legado é imensurável: ele profissionalizou o voleibol brasileiro, elevando o Brasil a potência olímpica. Atletas de todo o mundo o citam como mentor, e sua frase “Perfeição é o mínimo” ecoa em ginásios. Bernardinho não é só um vencedor; ele é um educador do caráter através do esporte.
Atualizações Recentes em 2025
Em 2025, Bernardinho vive um ano de emoções intensas à frente da seleção masculina. Após o bronze em Paris 2024, ele focou na renovação, integrando jovens como Darlan e Leal ao lado de veteranos como Wallace. Em setembro, o Brasil disputa o Campeonato Mundial no Filipinas, na Pool H. Há seis dias, ele anunciou a lista de 14 atletas, incluindo Bruno Rezende e Yoandy Leal, prometendo uma campanha agressiva.
Tragédia marcou o torneio: em 17 de setembro, sua mãe, Maria Ângela Rocha Rezende, faleceu aos 90 anos, no Rio. Bernardinho, do outro lado do mundo, recebeu a notícia horas antes do jogo contra a Sérvia. Visivelmente emocionado, ele abraçou os jogadores no vestiário, dedicando a partida à avó de Bruno. O time venceu por 3-1, com saques potentes e bloqueios inspirados. “Ela foi minha primeira torcedora”, disse ele pós-jogo, com lágrimas. O Brasil avança para as oitavas, e Bernardinho, aos 66 anos, mostra que sua força vem do coração.
Com o Mundial em andamento, Bernardinho planeja o ciclo para Los Angeles 2028, misturando tradição e inovação. Seu retorno em 2023 revitalizou o time, e 2025 pode ser o ano de um novo título mundial, 15 anos após o último. Enquanto isso, ele continua inspirando, provando que o vôlei é mais que um jogo – é vida.